REVIEW: Britney Spears- Britney Jean


É o último grande lançamento de 2013 e vem envolto em expectativa, ou não se tratasse do novíssimo trabalho do maior vulto da pop do séc. XXI. Britney Jean é o 8º álbum de um percurso que já leva 14 anos e tem sido descrito como o seu disco mais pessoal de sempre. Mas será também o melhor? Bem, ter will.i.am como produtor executivo impede-me de acreditar que sim. Quem sabe se não serei surpreendido... Vamos a isto:
 
1) Alien- O disco inicia-se em tom confessional, com Britney a admitir ter lidado no passado com sentimentos de solidão e inaptidão social sob uma hipnótica batida de fundo saída das mãos de William Orbit, mago da electrónica de estimada reputação. Tinha tudo para ser perfeito, mas um pré-refrão tão mal interpretado ao qual se segue um refrão assente na repetição infinita de "not alone" deitam tudo a perder. É uma pena - podia ser tão mais do que é. (6/10)
 
2) Work Bitch- Não é à toa que foi escolhido para 1º single. Produzido por will.i.am e Sebastian Ingrosso - talvez por isso soe tanto a Swedish House Mafia - vê a cantora entrar por territórios da EDM agressiva e a corroborar a pele de "bad bitch" que tem vindo a vestir desde 2007. É um autêntico torpedo destinado a espalhar o caos na pista de dança, mas que já chegou tarde - tivesse vindo 2 anos antes e seria um estrondo. É 100% Britney, "the bitch that you love enough". (8/10)
 
3) Perfume- Naquela que é a sua primeira balada lançada como single desde "Everytime", Britney demonstra uma vulnerabilidade que há muito não se ouvia nos seus temas (afirmando ter receio de ser traída), ao mesmo tempo que recaptura a candura dos seus primórdios. Não é instantânea (tem um tanto ou quanto de pirosa, para ser sincero) mas a parte do "I'll never tell" é demasiado sedutora e luxuosa para lhe conseguir resistir totalmente. (7/10)
 
4) It Should Be Easy- O problema é que é fácil, demasiado fácil. David Guetta e o seu bando são chamados ao dever e, provam, uma vez mais, que a reciclagem de ideias é o seu forte. "It Should Be Easy" é uma versão 2.0 de "Right Now" de Rihanna e, praticamente, de todos os temas retirados dos últimos 2 álbuns dos Black Eyed Peas. É uma fraquíssima reflexão acerca do amor que atinge o seu expoente quando cantam "la ra di/ la ri da/ It's the only way to love". Enfim, é um "Big Fat Bass", a sequela. (5/10)
 
5) Tik Tik Boom- Não dava grande coisa por uma canção com um título assim, mas o certo é que é das melhorzinhas que por aqui moram. É sex dynamite que nunca chega a explodir: faz cócegas e beslica a pele mas mantém-se sóbria, sem cair nas malhas do exagero. Pelo meio tem um inusitado T.I. (ainda à boleia de "Blurred Lines"?) e um refrão que me parece tão apto para um belo de um twerk. Apostaria nela como futuro single. (8/10)
 
6) Body Ache- *Suspiro* Volta Dr. Luke, estás perdoado! É uma nova colaboração com Guetta e afins, que não é mais do que uma versão evolutiva de "Scream and Shout" meets "On the Dancefloor", do DJ francês. Mas se aí o efeito surpresa jogou a seu favor, aqui as coisas são bem menos entusiasmantes. Mesmo assim não lhe viraria a cara: faz-me querer dançar de forma pouco contida. E assim vão 3 temas que nada têm de pessoal. (6/10)
 
7) Til It's Gone- Aqui está um excelente exemplo de como um tema honesto pode ser arruínado pela pirotecnia electrónica de will.i.am e companhia - um pouco menos de euforia vinha mesmo a calhar. Há duas coisas que me irritam profundamente: os versos cantados a gaguejar e o refrão novamente repetitivo. Além do mais, a batida é exactamente igual a "Contact" do último álbum dos Daft Punk. Caramba, que vazio de ideias... (5/10)
 
8) Passenger- Fico extremamente confuso com este tema: é o completo oposto de tudo aquilo que Britney Spears fez até ao momento: pop de estádio com letra inspiradora ("I'll let you lead the way now/ Cause I want you to take the wheel/ I've never been a passenger though/ I never knew how good it could feel"). Julgo que se trata de uma sobra do último álbum de Katy Perry (que até tem créditos na escrita) e que acabou por encontrar o seu caminho até aqui. Diplo assina com competência, mas Britney surge irreconhecível. Tão tão estranho. (6/10)
 
9) Chillin' with You- Foi só há um par de dias que descobri que a irmã mais nova de Britney cantava (e bem), daí que estava à espera de encontrar um dueto a pender para a música country. A coisa até começa bem, com Britney a usar a sua voz infantil acompanhada de uma melodia docinha, mas a coisa descamba (como sempre, aliás) no refrão. É uma autêntica salganhada de ideias e aquilo que poderia ser um bonito dueto torna-se num mero desperdício de espaço. (5/10)
 
10) Don't Cry- Imaginemos por um momento que este era o derradeiro tema de Britney Spears. Não será (reforma o tanas!) mas daria um excelente single final. Vejo-o como uma sequela de "Criminal" em que, passado o encanto pelo bandido, não há outra alternativa senão um "adios, I'm out the door" (só por este verso já valeu a pena). É uma despedida à texana, de cavalo montado, espiga de trigo na boca e rumo ao sol poente - desconhecido e incerto. Como o futuro da própria Britney. (7/10)
 
Custa-me muito dizer isto, mas tenho que admiti-lo: Britney Jean não só é um dos piores álbuns do ano como o mais fraco de toda a sua discografia. O que não deixa de ser irónico, visto que o seu propósito era o de ser o seu disco mais pessoal à data. De certa forma acaba por sê-lo, mas das duas uma: ou a melodia não se insere no contexto da letra (letras honestas mergulhadas em pirotecnia electrónica desprezível) ou a letra não acompanha o sentido melódico (gaguejos e repetições mil a preencher vazios líricos) . Resultado: é o seu trabalho mais inconsistente e desinspirado de sempre.
 
Culpar will.i.am seria o mais óbvio (e acreditem que tenho vontade de o esganar) mas o problema é mais profundo que isso. Ele não a leva por territórios dignos, é certo, mas há aqui uma total desorientação artística que resulta da ausência dos habituais produtores com quem Britney colabora: Max Martin, Dr. Luke (remetido para as faixas bónus), Danja ou Bloodshy & Avant - são eles quem sabe, de facto, extrair o melhor dela e criar as pérolas revolucionárias que a fizeram alcançar o trono de Princesa da Pop. Não vale a pena culpar a pobre da Britney (afinal de contas sempre foi a melhor das marionetas nas mãos de produtores acertados). O seu único erro foi ter colocado o controlo criativo nas mãos de will.i.am que, obviamente, não soube lapidar o diamante que tinha em mãos. Fui tão estúpido em acreditar que ele poderia fazer alguma coisa decente...
 
Sinto-me desiludido e chateado. Não que estivesse à espera de um disco revolucionário, mas não contava com um trabalho tão... anónimo. Não soa a Britney Spears, não honra o seu nome e é completamente banalíssimo (excepção feita a "Work Bitch", "Tik Tik Boom" e "Don't Cry"). Não lhe dou mais do que dois meses de vida - findo esse prazo já ninguém se lembrará disto. E num abrir e fechar de olhos não terá passado de uma memória distante, um sonho mau difícil de narrar. Até porque não é assim que quero recordar Britney Spears.
 
Classificação: 6,3/10
 
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