2013: Um Balanço Sónico- Parte X

  A figura  

Justin Timberlake

Entre os acontecimentos musicais que marcam 2013 a ferro e fogo, está o regresso de Justin Timberlake ao seu estado natural, após 7 anos de interregno passados a perseguir uma carreira cinematográfica e pautados por pontuais colaborações musicais. Presença constante ao longo dos últimos 12 meses, foi o grande protagonista do ano que agora termina.

I'm Ready. Foi desta forma que, a 10 de Janeiro, Justin colocou um ponto final no longo hiato musical e anunciava o regresso aos discos, antecedido por "Suit & Tie", pedaço vintage de R&B e soul que apanhou desprevenido quem esperava um retorno à pop electrónica de FutureSex/LoveSounds. "Mirrors", o fabuloso sucessor que se tornaria numa das grandes canções do ano, não se fez tardar e tornou ainda mais apetecível a espera por The 20/20 Experience, o ambicioso 3º álbum de estúdio do cantor, em que este explora lado-a-lado com Timbaland os promissores territórios da neo-soul.

De seguida, veio a aclamação. O álbum venderia perto de 1 milhão de cópias nos EUA, na semana de estreia - comprovando assim o seu estatuto de ícone - sendo que detém o título de disco mais vendido do ano em solo americano. E, logo a seguir, os prémios: 3 American Music Awards, 4 VMAs (incluindo o Prémio Carreira) e inúmeras nomeações para outras cerimónias, das quais importa destacar as 7 distinções para os Grammys 2014.

O regresso de Timberlake não se fez apenas com um mas sim com dois álbuns, com a segunda parte de The 20/20 Experience (menos memorável, convenhamos) a ser lançada em Setembro último e antecedida por "Take Back the Night", com influências disco via Michael Jackson dos tempos de Off the Wall, e "TKO", um poderoso gancho pop com especiarias, beatbox e sintetizadores enfeitiçados. 

Se este seu regresso provou alguma coisa, foi porque razão JT continua a ser o macho-alfa da pop: ninguém o faz melhor do que ele. Poderá demorar uma eternidade até que o avistemos de novo, mas é certo que da próxima que voltar vem para conquistar o trono de Rei da Pop, que é seu por legítimo direito. 

  As canções internacionais  

Lorde- "Royals", Pure Heroine

A crítica social está de volta à pop e graças a uma adolescente de 16 anos que causou uma pequena grande revolução numa indústria repleta de ilusões, hipocrisia e ostentação. Afinal de contas, tudo o que precisávamos era de uma boa dose de verdade e alguém que tivesse coragem de dizer tudo aquilo que vai mal no panorama musical. Lorde foi perspicaz o suficiente para o fazer e não necessitou de grande aparato técnico - estalar de dedos, baixo pulsante e pouco mais. O minimalismo é o novo EDM e a genuinidade a palavra de ordem. Findo 2013, o voo de asas de papel transformou-se num sonho real: que o reinado da Queen Lorde perdure por muitos e bons anos.



Disclosure feat. AlunaGeorge- "White Noise", Settle

Tivesse "Latch" sido lançada este ano e estaria aqui neste lugar. Mas "White Noise" não fica nada a dever ao prodigioso irmão mais velho: é um combo fatal que junta 2 das grandes revelações do ano para um portento house para lá de estimulante, condimentado com a voz alienígena (elogio) de Aluna Francis e os beeps maquinais e sintetizadores turbulentos dos manos Lawrence que devolveram o entusiasmo à música electrónica. Invadiu o meu cérebro qual verme asqueroso cujo propósito de vida é fazer-me dançar até à exaustão. Barulhinho bom, do melhor que se fez em 2013, só superado pelo senhor que se segue.



Justin Timberlake- "Mirrors", The 20/20 Experience

Reza a lenda de que esteve 4 anos fechada a sete chaves, destinada a musicar o regresso triunfal de JT às canções em nome próprio após uma longa pausa de 7 anos. E seria sempre um hit de enormes proporções, quer tivesse sido lançado em 2009 ou daqui a 10 anos. Por sorte, foi libertado em 2013 e tornou-se na minha canção favorita dos últimos 12 meses: aquela que certamente mais cantarolei e com a qual desenvolvi um elo de ligação muito forte. Não só porque se tratou do regresso de um dos meus ídolos, mas também porque é um belíssimo testemunho de amor, que resiste à passagem do tempo e perdura depois da morte. Pura comoção e perfeição pop.



  O álbum  

Lorde- Pure Heroine

A capa diz tudo. Uma jovem de 16 anos vinda de nenhures que muda as regras do jogo, um tabuleiro de peões mimetistas que há muito se enrederam numa teia de esquemas vis, polémicas calculadas e truques desprezíveis. E foi preciso uma adolescente dos Antípodas ter-nos vindo mostrar tudo aquilo que estava errado na pop contemporânea.

Disse-o aquando da minha apreciação ao álbum: "Liricamente soberbo e provocante, melodicamente viciante, vocalmente desafiante e com produção experimental e inquietante, Pure Heroine chega numa altura em que o panorama musical precisa de um abanão e de alguém que desafie o dito convencional. Esse alguém é Lorde. Uma adolescente de 16 anos cuja força reside nas palavras e na verdade que elas transportam: a crítica aos costumes modernos, à hipocrisia e falsidade que nos rodeia, à ilusão em que a cultura pop nos fez mergulhar, misturados com os receios e sonhos próprios da idade. Acredito veemente que o álbum se tornará num marco geracional, na voz de muitos adolescentes e jovens adultos que se sentem incompreendidos e que não raras vezes se questionam que raio de mundo é este em que vivemos". 

Mantenho cada palavra. E acrescento mais umas quantas. Pelo caminho tornou-se no meu álbum favorito de 2013, um balão de oxigénio a que recorro frequentemente, não só quando estou cansado da tirania que invade os meus ouvidos mas sempre que quero ouvir pop substancial, autêntica e inteligente.

O porquê de gostar tanto dele? Simplesmente porque já tive 16 anos e revejo-me no seu dicurso, ora sonhador, ora crítico, ora receoso. Sou e serei sempre pelos genuínos, pelos que procuram mudar mentalidades e lutam pela libertação das palavras, pela disseminação da verdade. E Pure Heroine foi quem mais fez por essa causa em 2013. Marca um tempo, uma geração e a minha vida. 

Pontos altos: "Tennis Court", "400 Lux", "Royals", "Ribs", "Buzzcut Season", "Team", "Glory and Gore", "Still Sane", "White Teeth Teens" e "A World Alone"

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