À Descoberta dos Arcade Fire- Funeral


Editado em Setembro de 2004, o álbum de estreia dos Arcade Fire é considerado por muitos como um dos melhores discos do séc. XXI, tendo sido fulcral na revitalização do género indie rock e um marco autêntico na vida de muitas pessoas, que o elegem como disco das suas vidas.

À minha chega com um atraso de 9 anos, mas não tarde demais. Seria sim, se tivesse passado por mim, sorrido, e eu seguisse caminho indiferente. Mas não. Fui eu que fui ter com ele. Porque achei que talvez agora pudesse compreender a sua essência. E sentir o mesmo que muitos outros dizem sentir. Foi, portanto, um apelo do coração. E tais chamamentos não devem ser negados, penso eu.

Porquê Funeral? Sempre me pareceu um título demasiado deprimente e de muito mau gosto. Mas depois de lhe dar ouvidos e conhecer a história por detrás do título, mudei de opinião. A sua designação deve-se ao facto de 4 dos elementos da banda terem, no decorrer do processo de composição do álbum, perdido membros das suas famílias. E isso, obviamente, afecta a vida de qualquer um.

Quem já não passou por uma situação do género? Cada um sente-a de forma diferente, seja com um mar de lágrimas ou com o mais infinito dos silêncios. Mas sente. E acho que é comum a todas as pessoas que passam por ela reavaliarem a sua existência, fazendo um exame de auto-consciência que as leva a reflectir acerca daquilo que tem sido a sua vida e o que podem fazer com ela antes que o tempo se acabe.

É terapêutico. Catártico. Intenso. Inesperado. Penoso. Enfim, uma mescla de sensações que nos levam a questionar uma série de coisas que até então não tinhamos sequer pensado. Não voltamos a ser quem éramos depois de termos passado por ela. Aprendemos a seguir em frente. Despertamos. Para uma nova vida. Para um novo "eu".

Funeral é tudo isso e muito mais. É uma autêntica reflexão sobre a vida e a morte e consegue ser extremamente bela, heróica, feroz, dramática, eufórica e comovente nas suas várias etapas. É uma grandiosa história contada de coração nas mãos e é impossível ficar indiferente perante aquilo que se ouve.

Começando pela tetralogia "Neighborhood" - Tunnels, Laika, Power Out e 7 Kettles - expressando o sentimento de perda, a raiva, a aceitação e terminando em tom esperançoso, desenrolando-se de forma progressiva e extremamente épica; passando por esse hino à vida que é "Wake Up", o verdadeiro epicentro do disco, pelo mar de corais de "Haïti" que tanto me faz lembrar Alt-J (apesar de só aparecerem 8 anos depois) e que desemboca em "Rebellion (Lies)", que não é mais do que um valioso ensinamento de que quem não sonha acordado, não é mais do que um cadáver adiado. E o que dizer de "In the Backseat", a belíssima faixa final (com uma certa aura de Björk) e que encerra em si a mensagem mais poderosa do disco?

Só o tempo dirá se Funeral se tornará num dos álbuns da minha vida, mas para já posso dizer que é, sem dúvida, um dos mais bonitos que já ouvi. E sim, merece todos os elogios e lugares cimeiros nas listas de melhores álbuns de sempre que tem amealhado ao longo dos anos. Aconselho a todos que o oiçam: tal como a morte é incontornável, também este disco o será na vossa vida. E há tanto, mas mesmo tanto, que podemos aprender com ele.


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