REVIEW: Avril Lavigne- Avril Lavigne


Um pouco reticente, lá decidi dar ouvidos ao novo álbum homónimo de Avril Lavigne, o 5º de uma carreira iniciada há 12 anos atrás. Em parte porque há muito que me deixei de identificar com a sua música, daí que tema pelo desfecho desta apreciação. Mas há um passado entre nós (isto soou muito lamechas, não?) daí que me sinta na obrigação de acompanhá-la a cada nova aventura. Vamos a isto:
1) Rock N Roll- Contagiante tema de abertura que me brinda com uma rebeldia e irreverência que há muito estava adormecida em Avril e que volta a estar na ordem do dia neste seu novo álbum. É pop punk efervescente, infecciosa e deveras divertida. É também irrepetível, o que significa que não encontrarei outro momento assim daqui em diante. (8/10)

2) Here's to Never Growing Up- Lá se foi o vigor. Naquela que é uma autêntica ode ao seu Peter Pan interior, em que jura a pés juntos conservar o seu espírito jovial para todo o sempre e em que até mete os Radiohead ao barulho (vamos mantê-los longe disto, ok?) a diversão permanece mas a viagem perde o fulgor. Soa àquele-hit-de-Taylor Swift-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado e, pior ainda, é uma reciclagem do seu próprio single de estreia, "Complicated". Auto-paródia no seu melhor. (6/10)
3) 17- E pensava eu que isto não poderia ficar mais óbvio. Não vá o ouvinte ter dúvidas acerca das suas reais intenções, Avril trata de esclarecer os mais desatentos com uma canção em que recorda os seus tempos finais de adolescente, mas que falha redondamente em captar alguma nostalgia, se era essa a intenção. Teria a sua piada se este fosse o seu primeiro álbum. Acontece que já vai no 5º e pede-se algo mais... substancial, digamos. (5/10)
4) Bitchin' Summer- Estou oficialmente enjoado. Isto decididamente não é para mim: só sinto influências de Taylor Swift e uma vontade de agradar a camadas adolescentes. O titulo é tão inspirado quanto a canção: melodia do género à-volta-da-fogueira e uma letra que poderia ter sido feita por uma criança de 10 anos. Ridículo é dizer pouco. (4/10)
5) Let Me Go- Até que enfim, uma balada, território em que Avril ainda conserva algum bom-gosto. O quê?! Estarei eu a ouvir a voz de Chad Kroeger? Oh Deus, estamos condenados! Agora mais a sério: para além de estarmos perante dois recém-casados a cantar um tema de separação (estranho, não?) acho que passava melhor sem a presença do vocalista dos Nickelback, cuja essência reside na canção. E isso não é nada bom. Uma pena, até porque Avril tem aqui a interpretação mais inspirada do disco. (6/10)
6) Give You What You Like- O título até vem a propósito: Avril dá-me, finalmente, algo que é mais do meu agrado, naquele que é, até ver, o momento mais intimista do álbum e que recupera a atmosfera do admirável (esse sim!) Under My Skin. Tem versos decentes (isto é, que não envergonham uma compositora de 29 anos) e gosto especialmente do refrão. Isso isso, continua assim. (7/10)
7) Bad Girl- Wow, por esta é que não esperava. Marilyn Manson (medo!) sobe a bordo para um tema com influências punk dos anos 70 e entra a matar com um convidativo "just lay your head in daddy's lap", ao que Avril, descarada, responde "come get it now or never/I'll let you do whatever/I'll be your bad girl, bad girl". Não é o suficiente para a conseguir perdoar pelo tormento que me está a infligir, mas pelo menos mostra que ainda lhe corre alguma inspiração nas veias. (8/10)
8) Hello Kitty- "Mina sako arigato, k-k-k-kawaii"... perdão? Ah pois, está certo. É da tal gatinha nipónica que estamos a falar. De facto, é um tema de pôr os olhos em bico: marca a primeira experiência de Avril nos meandros da electropop mas, em vez de manter as coisas apelativas, transforma isto num tema de difícil digestão ao qual nem falta um breakbeat em modo dubstep. Bem, pelo menos aqui não a posso acusar de não ter tentado. (6/10)
9) You Ain't Seen Nothin' Yet- Ora aqui está uma coisa com a qual estou inclinado a discordar. A menos que continuasse na linha dos dois últimos temas, nada mais me poderia entusiasmar. E o certo é que não há aqui nada que ainda não tivesse visto: Avril Lavigne, 17 anos- take 63. E quase que podia jurar que isto ainda veio das sobras do seu álbum de estreia. (5/10)
10) Sippin' on Sunshine- A sério que fizeste uma canção à volta dessa bela temática lírica de "ohhh vamos saborear o pôr do sol e sermos felizes para o resto da vida"? Primeiro: o mundo não precisa de outra canção assim. Segundo: é a enésima vez que te oiço cantar acerca disto e já o fizeste melhor no passado. Próxima! (5/10)
11) Hello Heartache- Uau... que cliché. Agora deu-lhe para fazer uma canção que tenta abordar de forma positiva uma separação, como se não fosse já suficientemente mau dar-se ao trabalho de tentar acrescentar alguma coisa a uma temática que está mais do que batida. E, novamente, está à altura de uma criança da primária. O meu momento favorito? "I was champagne/you were Jameson". A minha alma chora com tamanho brilhantismo. (5/10)
12) Falling Fast- Estas letras são deveras proféticas. Tem sido trambolhão atrás de trambolhão e começo a ver o triste desfecho do caso. Mas vá lá que este tema faz vir à tona o melhor de si: a miúda a sós com a sua guitarra de voz terna e bom senso na cabeçinha. Aqui está um excelente exemplo de como fazer uma ode à paixão que arde no peito, sem ser imatura e descontrolada. (7/10)
13) Hush Hush- Isso é o que tenho andado a dizer desde que vi o navio afundar. Mas agora que Avril tinha acertado com o caminho, o desfecho aproxima-se. Joga no campeonato dos temas mais inspirados e recupera a atmosfera de Goodbye Lullaby. Teria dado um melhor single que "Let Me Go". (7/10)
Não há outra maneira de dizê-lo: Avril Lavigne perdeu o pouco encanto que lhe restava. Escutar este seu último álbum pode ter sido uma perda de tempo, mas pelo menos fez-me perceber que há diferenças irreconciliáveis entre nós. E é tarde. Demasiado tarde para voltar a conquistar-me. Não ponho em causa a veracidade do seu discurso "forever young", bem pelo contrário, até o apoio. É  a forma acérrima como o defende que é preocupante: sem rasgo de inspiração algum, limitando-se a copiar velhas fórmulas e revisitando lugares-comuns que já não interessam a ninguém.
Do alto dos seus 29 anos, Avril Lavigne tem actualmente muito pouco para dar. E é extremamente frustrante ver alguém como ela, que com 17 anos parecia tão promissora, entregue a um total vazio de ideias e aparentemente satisfeita com o caminho que escolheu. O que é que ela pretende com isto, afinal? Agradar aos jovens adolescentes? Se é essa a sua intenção, então deveria olhar para Lorde (dá-lhe 10 a 0) e aprender como se faz. Se calhar é tudo preguiça, porque quando sai da sua entediante zona de conforto (oiçam-se "Bad Girl" e "Hello Kitty") demonstra alguma sagacidade artística.
Dos 13 temas que compõem o alinhamento, apenas 5 se aproveitam:  "Rock N Roll", o já referido "Bad Girl" e o trio de bonitos temas acústicos que expõem o melhor de si - "Give You What You Like", "Falling Fast" e "Hush Hush". Talvez me tenha enganado bem acerca dela durante todos estes anos, mas eu ainda quero acreditar que, um dia mais tarde, Avril Lavigne consiga crescer musicalmente e continuar aquilo que parecia tão certo com Under My Skin. Mas por agora, o melhor mesmo, é seguirmos caminhos separados.
Classificação: 6,1/10
Sigam-me no facebook, na página oficial do blog.

Comentários

Mensagens populares