Britney Spears, A Lendária Princesa da Pop- Descida ao Inferno

Este é o quarto de uma série de posts dedicada à vida e obra de Britney Spears.


Ninguém sabe dizer ao certo o momento em que as coisas começaram a correr mal. Simplesmente correram porque não poderia ter sido de outra forma. Ninguém o poderia ter evitado. E não havia nada a fazer: era como assistirmos, impotentes, à passagem de um furacão, esperando que se fosse embora. Que não destruísse tudo. Que deixasse algo intacto para mais tarde recordarmos o que de bom tínhamos. E darmos valor a tudo aquilo que perdemos.

Bem sei que parece uma analogia demasiado catastrófica, mas não consigo pensar em melhor comparação para descrever o que aconteceu a Britney Spears. Posso, porém, identificar o grande culpado da situação: o showbiz, esse cruel mundo que muitos perseguem e tantos perigos encerra. E Britney perseguia-o desde os 5 anos de idade. Pode-se dizer por isso que grande parte da sua infância foi passada a correr atrás de um sonho precoce. E a adolescência? Nem vê-la, pois aí já estava demasiado ocupada a trabalhar arduamente para ser uma grande estrela pop.

E quando o conseguiu, não houve um minuto de descanso: em apenas 5 anos fez mais do que qualquer comum mortal poderia ter sonhado fazer - passou do anonimato para se tornar no ídolo incontestável dos adolescentes e chegou, em tempo recorde, ao trono de Princesa da Pop. Tudo isto aos 23 anos, mais de metade deles passados debaixo dos holofotes. E isso, claro, acarreta um preço: um crescimento anormal e desequilibrado bem como uma conturbada sanidade mental.

O colapso não se deveu só à pressão da carreira como também a uma série de dramas familiares. Entre 2006 e o princípio de 2008, Britney viveu tempos horríveis: o divórcio do seu 2º casamento, a morte de um ente próximo, problemas com drogas (que culminaram no infame episódio da cabeça rapada), a perda da custódia dos seus 2 filhos, sucessivos internamentos em várias clínicas psiquiátricas, entre muitas outras polémicas. E tudo isto não foi vivido em privado, mas sim sob um enorme circo mediático que nunca a deixou longe do alcance do público.

Todos nós que havíamos assistido ao seu aparecimento e ascensão, víamos, impávidos, a sua aparatosa queda. Pessoalmente custou-me bastante ver o estado lastimoso a que chegou: tinha-a como um ídolo, a responsável pela minha adoração pela pop - afinal de contas era a Britney, a minha adorada Britney - e foi extremamente doloroso e triste vê-la caída em desgraça. Julguei que fosse o fim da linha e que, mais dia menos dia, ela apareceria morta. E jamais imaginei que conseguisse recuperar.

O certo é que, mesmo na travessia do inferno, a música não esteve parada e durante esse período caótico foi concebido o seu 5º álbum - Blackout - que, ironia das ironias, se revelou a obra-prima maior da sua discografia. Sinal de esperança ou de regeneração artística, "o disco maldito" marcou a sua entrada nos territórios da electrónica e revolucionou a pop da época. Teve também um menor impacto comercial face aos seus anteriores discos, devido à escassa promoção de que foi alvo, visto que ela não estava em condições de o fazer - como bem provou na desastrosa actuação nos VMAs de 2007 em que apresentou "Gimme More" pela primeira vez.

Com a chegada de 2008, a tempestade acalmou. O pior já tinha passado, mas Britney ainda não estava totalmente recuperada. Aliás, nunca recuperou. Voltaria a erguer-se tão depressa quanto ruiu, mas nunca mais voltou a ser a mesma. Pelo menos sobreviveu - e o mundo estava preparado para recebê-la novamente de braços abertos.


Os meus singles favoritos


10º "My Prerogative", Greatest Hits: My Prerogative (2004)

"People can take everything away from you /But they can never take away your truth /But the question is, can you handle mine?". Foi em tom provocatório que Britney assinalou os seus 5 anos de carreira, pegando num original de Bobby Brown e adaptando-a à sua caótica realidade. Bloodshy & Avant assinaram esta diabólica versão mais próxima de uma pop dançável, tendo sido ilustrada por um vídeo que simbolizava a sua união com Kevin Federline, então seu marido. Pairava no ar uma leve sensação de perigo- o comboio estava prestes a descarrilar.



9º "Piece of Me", Blackout (2007)

Mesmo estando no centro da tempestade, Britney não chegou a perder o faro artístico. É um dos momentos altos de Blackout e, provavelmente, o tema mais autobiográfico da sua carreira, que evoca o sensacionalismo em seu torno, podendo ser entendido como um convite, acusação ou ameaça. Repleto de distorções várias, sintetizadores e efeitos robóticos, foi ilustrado por um vídeo que parodia sublimemente o caos que era então a sua vida.



8º "Me Against the Music" (feat. Madonna), In the Zone (2003)

Recuamos a tempos mais felizes, numa altura em que Britney estava prestes a alcançar o título de Princesa da Pop.  Madonna, a Rainha, estava lá para dar o empurrão final. Num tema com raízes na dance pop e com laivos de hip hop e funk, ambas jogaram o jogo do gato e do rato pela supremacia na pista de dança. É absolutamente icónico e tem, possivelmente, a coreografia mais estrondosa alguma vez vista em toda a sua videografia.



Os meus álbuns favoritos


Blackout (2007)

Quatro anos passaram sem que Britney lançasse um novo álbum. Caída em desgraça e a enfrentar um verdadeiro inferno, o escape acabou por ser a música. E o que dali nasceu foi aquele que é considerado o seu melhor álbum de sempre e um dos mais influentes dos anos 00. Blackout é puro êxtase auto-tune, uma incursão diabólica pela electropop, disco, funk e dubstep, um disco obscuro a nível musical mas com uma energia bastante positiva, em tudo contrastando com o tumulto em que a sua vida havia mergulhado. Na altura passou-me um pouco ao lado, mas hoje em dia reconheço a sua importância e consigo identificar-me com ele.
Singles: "Gimme More", "Piece of Me" e "Break the Ice"

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