À Descoberta dos Arcade Fire- The Suburbs


Tive que fazer uma pequena pausa nesta odisseia pelo legado dos Arcade Fire antes de proceder à audição deste The Suburbs, isto porque ouvi Funeral e Neon Bible um a seguir ao outro e necessitei de digerir e absorver calmamente tão transcendente experiência. Atingiram-me forte e feio e quis que houvesse um distanciamento entre a escuta dos anteriores discos para este.

Antes de mais, temos de perceber que por altura da edição deste 3º álbum, os Arcade Fire já estavam muito longe da redoma indie em que habitaram nas duas primeiras obras. E mais do que o maior fenómeno indie dos anos 00, eram já uma banda que disfrutava de um considerável sucesso comercial.

Veja-se este álbum, que se estreou no nº1 numa mão cheia de países (Portugal incluído), alcançou, à semelhança dos anteriores, um lugar de destaque na lista dos melhores discos do ano e conquistou, em 2011, num marco inédito para a banda, tanto o Grammy como o BRIT Award de Álbum do Ano, num claro sinal de reconhecimento por parte da indústria e do público da extrema importância dos canadianos.

Lançado 3 anos depois de Neon Bible, este The Suburbs é tido como um álbum conceptual acerca da vida nos arredores das grandes cidades, motivo a que não será alheio o facto da infância dos irmãos Win e Will Buttler ter sido passada no Texas, no coração da América. Deve, por isso, ser entendido como um regresso a casa, às origens, a constatação de que já quase nada é como era antes - a transformação do berço, da cidade, do próprio Homem.

Tinha tudo para ser um disco extremamente deprimente. Mas The Suburbs não se pinta só de nostalgia e tristeza: existem as habituais explosões de euforia ("Empty Room", "Ready to Start" e "Month of May") os momentos de pura sobriedade e introspecção ("Wasted Hours" e o tema-título), e há também espaço para uma boa dose de aventuras a nível sónico - remetem os instrumentos acústicos para segundo plano, fazem prodigiosas experiências com sintetizadores e exploram a fundo as potencialidades do piano e da guitarra eléctrica. Os ecos de Springsteen, tal como em Neon Bible, continuam bem patentes (sobretudo em "Modern Man" e "City with No Children")  mas aqui já se podia adivinhar o caminho que seguiriam no futuro (oiça-se "Half Light II" e "Sprawl II").

À primeira audição não me pareceu tão imediato quanto os seus antecessores, mas não é por isso que é menos épico. É diferente. Há uma notória evolução e uma maior ambição - o que só pode ser bom. Mas em termos emocionais, creio que não me atingiu da mesma forma que Funeral e Neon Bible. Não houve nenhum momento digno de uma epifania nem de puro arrebatamento. Mas há uns quantos de que gostei muito - o tema título, "Ready to Start", "Empty Room", "Half Light I", "Month of May" (com uma energia muito visceral), "We Used to Wait" e "Sprawl II" - todas elas com lugar cativo no meu coração.

Penso que este seja um daqueles álbuns que crescem em nós com o tempo, a cada nova audição. E já nem me arrisco a dizer qual dos três o melhor, até porque qualquer afirmação será prematura. Aliás, só tenho uma certeza: quanto mais escavo fundo na obra dos Arcade Fire, mais admiração e respeito vou ganhando por eles.


E agora sim, estou mais do que apto para escutar e avaliar Reflektor, a sua mais recente obra, e a premissa por detrás desta odisseia musical. A ver vamos, como tanto eu e eles nos saímos.
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