Odisseia Musical: 2012, Metamorfose- Parte IV

Como manda a tradição, no último post de cada Odisseia relembramos os heróis do ano em questão. Para a história de 2012 ficaram 3 nomes: Lana Del Rey, fun. e Emeli Sandé.

Lana Del Rey é a figura que mais facilmente associamos a 2012, um fenómeno que antes de o ser já o era. Dois anos antes havia editado um primeiro disco enquanto Lizzy Grant, mas seria a assinatura Lana Del Rey (suposta junção entre o nome da actriz Lana Turner com um modelo de automóveis da gama Ford) que levaria a artista norte-americana até aos olhos do grande público. Duas canções apenas - "Video Games" e "Blue Jeans" - fizeram dela uma estrela viral, de tal forma que antes mesmo do disco de estreia chegar às lojas, já o mundo se debatia a seu respeito. Embuste? Criação da indústria? Nova diva indie? Born to Die chegaria então em Janeiro de 2012, propulsionado por todo o hype, as referidas canções, pelo portentoso tema-título e suportado mais adiante graças ao apelo de "Summertime Sadness", "National Anthem" ou "Dark Paradise", a fazer-lhe valer o epíteto de "Nancy Sinatra gangsta". O ano terminaria com a reedição do álbum, The Paradise Edition, de onde foi extraída a notável "Ride", e zero de consenso a seu respeito.


Os fun. tinham lançado em 2009 um disco de estreia bastante discreto e ousaram ir mais além na concepção do seu sucessor. O rumo da banda mudaria quando o seu caminho se cruzou com o de Jeff Bhasker, inicialmente relutante em trabalhar com o grupo, embrenhado que estava a produzir para Beyoncé, Jay-Z e Kanye West. Da parceria criativa nasceu Some Nights, o disco revelação do trio nova-iorquino, aclamado pela bem-sucedida fusão entre pop, electrónica e hip hop. De lá saíram o gigantesco "We Are Young", portentoso hino de estádio na linha dos Queen, o grandioso "Some Nights", candidato à banda sonora da improvável sequela de O Rei Leão, e "Carry On". Escancararam a porta que separava a indie pop do mainstream, aberta no ano anterior pelos Foster the People, destronaram os pesos pesados da indústria nos lugares cimeiros das tabelas e acabaram com dois Grammys no bolso. E assim se tornaram nos bravos heróis da liga indie.


Emeli Sandé foi a voz de ouro de 2012, um portento soul e R&B de classe, elegância e primor. Foi ainda em 2011 que a escutámos pela primeira vez na belíssima "Heaven", em ambientes trip hop, e em "Daddy". Talvez para deixar assentar a poeira levantada por Adele e o fenómeno gerado em torno de 21, a cantora britânica decidiu esperar pelos primeiros meses de 2012 para editar o aguardado Our Version of Events, a honesta e sólida obra de estreia com supervisão de Naughty Boy. Alavancado pelo celestial "Next to Me", o álbum foi um enorme sucesso de vendas no país de origem, onde alcançou a certificação de sétupla platina por vendas superiores a 2 milhões de cópias e esteve 66 semanas consecutivas no top 10, quebrando assim um recorde detido pelos Beatles. Entre "My Kind of Love" e "Clown", Sandé deu ainda voz a "Wonder", do produtor do seu álbum, e "Beneath Your Beautiful", ao lado de Labrinth. E assim nascia um dos valores britânicos mais seguros dos últimos anos.

Este foi apenas o início do processo de metamorfose, que me continua a moldar e transformar a cada novo dia que passa. Os contornos mais recentes da minha jornada musical ficarão para outra altura, para outra história.

Os temas que mais me marcaram

3º Marina and the Diamonds- "Primadonna", Electra Heart

Já aqui falei do quão me envolvi afectivamente à obra conceptual de Marina and the Diamonds. "Primadonna" não foi o começo da aventura (consta que é a parte IV) mas assinalou o início do aprofundar do boneco caricatural patente em Electra Heart. Durante dias a fio vivi obcecado com esta visão artística: da composição electropop abrasiva, do contraste entre os agudos angelicais e graves operáticos, os traços de futilidade tão bem levados à letra, o tom inocentemente obscuro ou até às raízes de cabelo propositadamente negras para manter Marina Diamandis à tona. A canção só é tão estrondosa porque tem um vídeo assim. Um pedaço audiovisual de 4 minutos do mais fabuloso que já vi e ouvi na vida.


2º Foster the People- "Houdini", Torches

Foi esta a minha porta de embarque para o maravilhoso mundo fosteriano. "Pumped Up Kicks" passava por mim com relativa indiferença, mas "Houdini" cativou-me desde logo - sem nada na manga e todo um excitante mundo dentro da cartola. Foster-mor e sus muchachos guardaram-no para 5º e último single do fabuloso Torches, ilustrando-o com um vídeo que parodia de forma magistral as bandas que não passam de marionetas nas mãos de pessoas com poder e sabedoria para as manobrar. A mensagem é simples: focus on your ability, then they can't get what they want to steal! E se a nível lírico é bom, melodicamente é infalível - aqueles sintetizadores deixam-se sempre em êxtase.



1º Sky Ferreira-"Everything Is Embarrassing", Ghost

Para além de dar um bom lema para a minha vida, "Everything Is Embarrassing" assinala o momento em que a carreira de Sky Ferreira, após inúmeros falsos arranques, começa finalmente a descolar e a ir por um caminho muito interessante. É essa sensação de potencial infinito e talento enfim creditado aliada a uma enorme canção que é nostálgica, tumultuosa e devastadora em iguais porções - muito por culpa da excelente cama new wave que Dev Hynes e Ariel Rechtshaid fizeram - que a tornam tão memorável e especial. É directa ao coração, a canção e a própria da Sky, que deambula por L.A. qual jovem Madonna de beicinho em riste. Sem conseguir evitá-lo, apaixonei-me.



Os álbuns que mais me marcaram

1º Alt-J- An Awesome Wave

Este disco só chega até mim no início de 2013, quando percebi que já não podia mais combater o hype, mas foi editado em 2012 e como tal, pertence aqui. Como poderei fazer-vos entender a importância que An Awesome Wave tem para mim? Talvez porque é diferente de tudo aquilo que tinha ouvido até então e acaba por me atingir também de uma forma que nenhum outro álbum o havia feito - a capacidade que tem de traçar um universo muito próprio, um dialecto que é só deles, melodias crípticas de estranho apelo, sons que se estranham e se entranham no corpo e nos aproximam do nirvana. Secretamente, acho que é também o tipo de disco que, caso fosse músico, um dia gostaria de fazer. Uma espantosa onda sonora que me mantém cativo desde então.
Este é o álbum de: "Matilda", "Fitzpleasure", "Breezeblocks", "Tessellate", "Something Good" e "Dissolve Me"

Fim da Odisseia de 2012. Não percam para a semana o epílogo desta grandiosa aventura.

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Comentários

  1. Bom... depois que segui a sua recomendação de ouvir alt-j quando você os comparou ao Glass Animals, eu não consigo ouvir mais nada! Ainda não consigo acreditar que eu perdi tanto tempo sem conhecê-los! Estou ansioso pelo o que você irá falar do próximo album deles; particularmente eu realmente gostei. Apesar de não ser exatamente uma evolução para a música deles (com exceção de "Hunger of the Pine"), achei esse LP excelente! Bom... estou aguardando pela sua review e parabéns pelo blog, novamente! Eu não sei se você recebe esse feedback sempre, mas eu gosto de valorizar o excelente trabalho das pessoas. :)

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  2. Fico contente por te ter dado a conhecer a ilustre banda do triângulo e que tenhas gostado assim tanto deles! A review do This Is All Yours já está em marcha, espero terminá-la ainda esta semana. Também já andei a espreitar a Seinabo Sey, que não conhecia, e gostei do que ouvi! Nem sempre recebo feedback, é verdade, mas quando o recebo e assim de forma tão elogiosa, faz-me sempre ganhar o dia. Obrigado =D

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