REVIEW: Jessie Ware- Tough Love
Para esta review vou experimentar uma abordagem diferente daquilo que tem sido a prática recorrente neste espaço, que é falar intensivamente dos álbuns canção-a-canção seguida de uma conclusão. De modo a desafiar-me e adaptar-me às exigências da profissão, vou tentar fazer uma análise mais sucinta e menos exaustiva do que é hábito. Ah e este vai ser o meu primeiro post para o Notas à Solta, o blog que mantenho com a minha turma de Jornalismo e Crítica Musical. Não podia estar mais nervoso, pois claro. Coragem, vamos a isto:
Foi há apenas dois anos atrás que Jessie Ware passou de cantora de suporte de um músico indie a musa de SBTRKT para se tornar numa das maiores revelações de 2012. Devotion, a belíssima estreia, ardia numa sedutora combustão de canções downtempo com cunho soul, balanço trip hop e bordadas pelas linhas da nova vaga electrónica que começava a perfurar o mainstream.
Em 2014 encontramos Miss Ware a braços com um Tough Love, que representa precisamente a sua entrada na primeira liga do campeonato pop. Perde-se a atmosfera de Sade evocada em canções como "Running" ou "Swan Song", a sofisticação sonora de um "110%" ou "Night Light" e grande parte do embalo sedutor que perfumava o disco de estreia. Por outro lado, ganha-se uma intérprete de mão cheia que canta sobre amor, desamor e outros infortúnios que tais de coração nas mãos e rodeada pelos mais talentosos produtores contemporâneos (Two Inch Punch, Benny Blanco, Dev Hynes, James Ford, Emile Haynie).
Não inocentemente, o tema-título é a canção mais arrebatadora do álbum, um eventual posfácio da era de Devotion que tão bem introduz este novo registo, mas ilusório para quem esperava uma evolução na continuidade. "You & I (Forever)" soa a reconstrução new wave de "Bleeding Love"; "Cruel" vive de orquestração polida, percussão ligeirinha e ressentimento aos molhos. Um bom trio inicial.
Com "Say You Love Me" assiste-se à banalização das suas potencialidades artísticas e ao expoente máximo de lamechice, num tema feito à medida de Ed Sheeran - com créditos na escrita - e da banda sonora daquela série, filme ou talent show da berra. "Sweetest Song" esforça-se por recuperar a credibilidade neo soul cultivada em Devotion, mas está ao nível dos momentos mais mornos desse álbum. E a coisa desliza um bocado.
A confiança é recuperada no ultra-sedutor e cardíaco "Kind of...Sometimes...Maybe" com o norte-americano Miguel a emprestar a sua aura de Prince à canção, bem como na maravilhosa "Want Your Feeling", aprimorada pelo génio do esteta Dev Hynes e com um gostinho disco/funk que lhe confere um groove irresistível. Segue-se "Pieces", a balada de excelência do disco, com Jessie Ware a fazer a sua melhor personificação de Celine Dion e a assinar um refrão que parece querer rivalizar com o de "Last Christmas".
Os últimos metros do disco são calcorreados ao som de "Keep on Lying", que facilmente passa pela composição mais expedita do álbum, com a sua leve brisa dos trópicos entrecortada por celestiais investidas de gospel. O êxtase chega com a luxúria num colchão de água e lençóis de cetim de "Champagne Kisses", a transbordar de felicidade por todos os poros, dando lugar ao pedido de restabelecimento do amor e serenidade em "Desire" ("take me in your hands/ love me like we used to know"), a fechar o disco na mó de cima.
Intenso, lamechas por vezes, ferido e turbulento - assim é este Tough Love, um esforço nitidamente comercial da parte de Jessie Ware, menos interessante face à estreia mas igualmente apaixonante. O encanto e talento desta senhora, porém, não se esgotarão por aqui.
Classificação: 7,8/10
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