59º Festival Eurovisão da Canção 2014- As considerações

Não sou um festivaleiro ferrenho, mas adoro a Eurovisão. Vejo-a desde que me lembro - os últimos 11 anos, portanto - e ainda que não tenha vivido o seu período aúreo, é sempre com uma grande nostalgia, magia e emoção que assisto anualmente às suas edições.

A que se realizou ontem à noite não foi excepção - um grande espectáculo televisivo que certamente ficará na memória como uma das melhores edições feitas na história do certame. A começar pelo palco, majestoso e imponente, de dimensão gigante e com uma tecnologia de vanguarda capaz de reproduzir efeitos visuais formidáveis, passando também pelos vídeos de introdução às actuações - que parecendo que não também desempenham um papel importante - tendo sido muitíssimo bem pensados e executados, e terminando nas próprias canções que, salvo raras excepções, estiveram uns bons furos acima daquilo que se costuma ouvir por lá. 

E é precisamente nelas que me irei concentrar agora, recuperando o top 3 das canções mais votadas que por acaso também integravam o lote das minhas favoritas:

Vencedora: Conchita Wurst- "Rise Like a Phoenix" (Áustria)

A famosa mulher barbuda de que tanto se falava. Não estava à espera de gostar tanto, mas a verdade é que adorei - era a minha favorita de todas as 26 entradas. Não será justo dizer que ganhou pelo mediatismo e pela possante pilosidade facial. A canção de facto era estrondosa e foi sublimemente interpretada. Tem ali um porte clássico e uma atmosfera muito à la James Bond - um absoluto triunfo, é o que é. E como se não bastasse a sua imponência, o facto da plateia ter cantado em uníssono fez com que se tornasse ainda mais arrepiante. Foi a 2ª vitória da Áustria na Eurovisão, algo que não acontecia desde 1966.


2º lugar: The Common Linnets- "Calm After the Storm" (Holanda)

Os Lady Antebellum lá do sítio, que não estiveram muito longe de alcançar o 1º lugar. A música country é uma coisa pouco vista no palco da Eurovisão, talvez por ser tão típica dos EUA e mal-amada na Europa. Mas marcaram pela diferença, não só do repertório mas também pela forma como conduziram a actuação: olhando nos olhos um do outro o tempo inteiro, como se fossem as únicas almas ocupantes daquela enorme arena - foi adorável. Nashville chora de orgulho.


3º lugar: Sanna Nielsen- "Undo" (Suécia)

Se Conchita não tivesse ganho, esta teria dado também uma justa vencedora. Aliás, a Suécia nunca desilude, tem sempre óptimas participações. Uma vez mais, temos a fabulosa cenografia a fazer maravilhas: os feixes de luz em forma cónica que rodearam a artista foram simples mas tão perfeitos nesta actuação cuja força residia inteiramente na prestação vocal de Sanna. A noite foi das baladas, está visto.


Reservo espaço para mais uma, que também gostei bastante:

11º lugar: Softengine- "Something Better" (Finlândia)

Fizeram-me lembrar uns 30 Seconds To Mars meets Bastille com mais alguma banda à mistura que me escapa agora. Para mim destacaram-se dos demais porque injectaram ali bastante dopamina num alinhamento que estava a ser marcadado por temas de cariz mais intimista e baladeiro. São todos muito novinhos (têm entre 17 e 19 anos, vim a saber), estão ainda a começar e parece-me que se poderão vir a tornar num valor seguro da Finlândia. Obtiveram a melhor classificação para o país desde 2006, ano que ficou marcado pela vitória dos Lordi.


Para além destas, gostei também das canções do Azerbeijão, Alemanha, Suíça, Malta, Dinamarca (super cheesy, mas altamente contagiante) e Reino Unido. 

Última palavra para Portugal e a sua representante deste ano, Suzy, crucificada desde o momento em que foi proclamada vencedora naquela infame noite do Festival da Canção. Em parte mereceu-o, mas acho que até se portou muito bem na semi-final, tendo em conta a magnífica canção que levava - cumpriu o seu dever de forma notável (também era só o que faltava envergonhar o país por 2 vezes!). O público presente até entoou o wooah-oh-oh-oh e tudo! Saibam que foi por um fio de cabelo que ela não passou à final: ficou em 11º na votação, a um ponto apenas da 10ª classificada na sua semi-final. Teria a sua piada vê-la a disputar a final, mas acho que era preciso que isto acontecesse: para que os senhores do Festival da Canção pensem duas vezes antes de convidarem compositores pimba para as suas fileiras. 

Há que manter a esperança viva: será na próxima edição, a 60ª, que Portugal irá voltar a pisar o palco da final, após uma ausência de 5 anos. Que assim seja.

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